Conhecendo Havana nova e “vieja” (velha). Transporte, dicas de museus e primeiras impressões

Assim que chegamos no local onde o GPS indicava que existiam algumas hospedagens, pedimos informações para uma pessoa que parecia ser algum funcionário público e fez questão de nos explicar em inglês. Fomos ao local indicado e, de maneira totalmente informal, conhecemos o quarto, combinamos o preço com desconto e deixamos nossas malas. Uma mulher nos pediu para ficar com nossos vistos (que é um papel, não um carimbo) para preencher os dados do cadastro. Com muita desconfiança (pouco desnecessária), entreguei os documentos que pegamos de volta ao final do dia. Poucos minutos após a entrada na nova hospedagem já saímos para comer e conhecer a cidade.

Estávamos hospedados no centro novo de Havana (no bairro Vedado), na Avenida de los presidentes, bem próximo à esquina da calle 23. A calle (rua) 23, também chamada de avenida 23, é uma grande avenida que vai do centro novo até perto do centro velho. Ela termina no Malecón, um calçadão que contorna o mar de Havana mas não tem praia. Decidimos então andar por esta avenida e pelo calçadão. Nossa primeira impressão foi a de estar no centro antigo de SP, mas pouco mais limpo, mais antigo, organizado, sem moradores de rua e sem pessoas fumando crack ou querendo assaltar. Nesta avenida, havia muitos cinemas e um monumento ao Dom Quixote. Um de vários. Também havia muitos bares e restaurantes e uma Copellia (sorveteria típica cubana). Nesta rua também foi possível encontrar pela primeira vez um local onde existia um ponto de internet, o que notamos ao ver uma grande movimentação de pessoas com aparelhos eletrônicos reunidas em frente a um prédio da ETECSA (empresa de telecomunicações de Cuba). Assim que a avenida terminou, viramos à esquerda no Malecón e andamos até o monumento aos marinheiros  que fica de frente para o hotel nacional. Este hotel é muito bonito durante a noite, mas o sol estava bastante forte e (como já estávamos com bastante fome sede, calor, etc, etc e já tínhamos andado bastante) decidimos parar em algum local para comer e descansar.

Quem passeia por Cuba pode encontrar homenagens a diversas personalidades, como John Lennon, Madre Tereza de Calcutá e Camões, além de outras menos conhecidas, como Hasekura Tsunenaga.

Monumento para Camões em Havana
Monumento a Luiz Váz de Camões em Havana – Cuba

Decidimos comer no restaurante que tinha música ao vivo, em frente à ETECSA. Tanto a música quanto a comida estavam muito boas e foi o primeiro momento que me fez sentir estar em Cuba de verdade. Tomamos uma cerveja cubana chamada Cristal (não é a mesma Cristal do Brasil) e pedimos um peixe, uma cuba libre, águas e demos uma caixinha aos músicos. Ao todo gastamos 23,50 CUC. Foi um local com bom custo/benefício.

Na volta decidimos procurar algum lugar para comprar água e coisas para “beliscar” na hospedagem. Passamos em um local com aglomeração de pessoas, que parecia bastante com um supermercado, mas, ao adentrar o recinto, percebemos que não tinha comida, somente produtos de higiene pessoal e produtos para limpeza. Se tivéssemos prestado atenção ao nome “Agua y Jabon” não teríamos cometido este erro. Pouco depois de sair da loja de produtos de limpeza, meu chinelo quebrou (minha namorada tropeçou nele) e nosso objetivo de passar em um supermercado mudou para a compra de um novo chinelo. Ao perguntar, descobrimos que, nas proximidades, existia algo parecido um shopping chamado Habana Libre. Lá, compramos um chinelo fabricado no Brasil (Dupé) e aproveitamos para tomar um sorvete. O sorvete estava bom, porém, como era um local mais frequentado por turistas, estava um pouco supervalorizado. Pagamos 10 CUC no chinelo e 5 CUC (cinco dólares) no sorvete de duas bolas.

Saindo da sorveteria, percebemos que, no mesmo prédio, havia um mercado. Compramos água, vinho, pina colada e voltamos para deixar as compras e descansar um pouco. Aproveitamos para pegar de volta nossos vistos e ficamos conversando um pouco com as pessoas que nos alugaram o quarto. Os donos ou responsáveis pela hospedagem nos ensinaram que um bom meio de transporte seria os taxis coletivos. Taxis coletivos não são oficiais. Muitas vezes nem está escrito TAXI, mas, basta ficar em determinados locais da rua ou em pontos de ônibus e negociar para onde quer ir com quem está dirigindo o carro. A impressão que tive é que a grande maioria das pessoas que possuem um carro também utilizam o veículo como taxi e dá para negociar uma corrida com qualquer motorista. A princípio fiquei pouco desconfiado, mas, depois percebi que tratava-se de uma prática comum por lá e que, a princípio, não oferece perigo.  Negociamos nossa ida até o teatro nacional, na Habana vieja. Estávamos à procura de um cabaré que estava no guia, mas, estava fechado por ser segunda feira. Então fomos comer em um local que também era especializado em frutos do mar. Comemos uma salada de langosta (lagosta) e uma hamburguesa (hambúrguer). Tomei duas sangrias e minha namorada tomou dois mojitos. O tempo todo em que ficamos por lá, ficamos conversando com um ex combatente do conflito no Congo que contava muitas vantagens e nos apresentou uma das cantoras, que falava francês. Pagamos 20 CUC por tudo (incluindo a caixinha dos músicos) e fomos para a praça que fica em frente. Como era uma segunda feira, não tinha muito movimento na rua e então fomos para a avenida negociar nossa volta. Conseguimos rapidamente um taxi coletivo em um lada por 2 CUC. O carro era de uma pessoa jovem com sua namorada. Mesmo sendo um carro bastante antigo, nos chamou atenção o som de última geração, com uma grande tela. Perto de casa ainda comemos mais uns pasteizinhos bem gostosos (que não lembro o nome) e uma limonada frappé cada um, tudo pelo valor de 6 CUC.

No dia seguinte decidimos acordar e andar até a praça da revolução, visto que estávamos hospedados perto. No caminho, passamos em uma franquia cubana chamada pollo alguma coisa. Logo de cara vimos que o preço estava muito mais barato que o normal. Pedi um refresco de limón (refrigerante de lata parecido com Sprite), uma hamburguesa e uma croqueta de pollo. Eles nos perguntaram: Somente um mesmo? E confirmamos que sim. Quando fomos ver, era somente o hambúrguer (sem pão, nada) e um bolinho do tamanho de uma almôndega pequena. Pedimos então outra hamburguesa e 10 croquetas. Gastamos somente 2 CUC no total. Bastante econômico. Chegamos na praça da revolução, e como praxe, tiramos fotos ao lado dos prédios com as imagens de Che Guevara de um lado e Camilo Cienfuegos do outro. O sol estava bastante forte e decidimos entrar no monumento/museu José Martí, que fica mesmo na praça da revolução. Muito bom o museu e o ar condicionado. Neste museu é possível ver fotos, cartas e armas utilizadas por ele. Todo o ambiente é decorado com frases de José Martí.

Praça da revolução em Havana - Cuba
Praça da revolução com homenagem a Che Guevara ao fundo

Após sair do Museu José Martí, passamos em um outro museu que tinha ao lado, que era o museu dos correios de Cuba. Muito bom também. Tinha uma parte com selos do mundo inteiro, o que, para quem curte filatelia é um prato cheio. Não sei se a moça do museu nos mostrou porque foi legal conosco, mas, se alguém for lá e não ver os selos de todo mundo, pode perguntar por eles. Neste museu também tinha um foguete real, com cerca de um metro de altura, utilizado em experiências alternativas para entrega de mensagens. Após o museu fomos até uma rodoviária que tinha ao lado ver se tinha passagens para Matanzas, mas, a ideia de passar na rodoviária foi pura perda de tempo. Descobrimos que tínhamos que ir até a rodoviária da empresa chamada viazul. Todos que forem para Cuba devem guardar este nome, pois, provavelmente vão utilizar o transporte deles. Comemos uma comida de rua mesmo na rodoviária (não muito boa, mas, pelo menos, foi barata: 8 CUC para o casal) e pegamos um taxi coco (5CUC) até o centro de Havana a fim de ir ao Museu da revolução. Um taxi coco nada mais é que uma moto adaptada em forma de coco para poder levar dois turistas sem tomar chuva e sem ficar debaixo do sol quente. É pouco mais caro que os taxis coletivos, mas, nosso tempo era precioso e foi o primeiro que apareceu. Descemos em frente ao capitólio e decidimos visitar uma fábrica de charutos que tinha ao lado, já que não conseguimos entrar no capitólio, pois estava em reforma. A fábrica de charutos também estava em reforma (Havana inteira está em reforma), mas a loja estava aberta. Aproveitamos o ar condicionado, tomamos um refresco e fomos ao museu da revolução.

Homenagem a George H. W. Bush
“Agradecimento” ao ex presidente dos EUA George H. W. Bush, dentro do Museu da revolução, em Havana

O Museu era até as 16h e entramos às 15h (não façam isso). Ficamos um tempo na parte que contava das sabotagens e jogos baixos da CIA (como passar de avião pulverizando veneno nas plantações e até mesmo nas nuvens para cair em forma de chuva, quando uma moça veio nos avisar que estava prestes a fechar. Não tínhamos visto nem 1/10 do museu e por isso tivemos que voltar outro dia. Também aprendemos que os museus realmente fecham no horário marcado (na verdade cerca de 5 minutos antes) e não é possível ver mais nada após o horário. Fomos andando pela orla (Malecón). No caminho paramos em um restaurante com partes flutuantes e uma loja ao lado. Fiquei olhando as bebidas da loja e, como não entendo muito, comecei a perguntar sobre os runs. A princípio me pareceu que o vendedor estava mal humorado querendo me expulsar, mas, pouco antes de sair, ao perguntar se determinado ron ou run era bom, o vendedor tirou um copo com gelo já cheio (que ele estava tomando) de baixo do balcão e disse para eu provar. Provei, aprovei, recebi explicações detalhadas sobre os tipos de ron e já peguei duas garrafas e alguns charutos. De lá, caminhamos até o centro do centro antigo, fizemos umas compras e entramos num restaurante cujo dono nos prometeu duas langostas grandes, música boa e dois drinks cada por 10 CUC por pessoa. Realmente cumpriram o prometido. Tomamos 4 drinks, entre eles, cuba libre, mojito e sangria, a lagosta estava deliciosa e ouvimos a melhor música de nossa viagem à Cuba. Eles tocavam até algumas músicas que pedíamos, tinham grande repertório e tocaram músicas brasileiras e outras argentinas (para a família argentina que estava na mesa ao lado). Já participei de algumas bandas e confesso que os músicos eram realmente bons. Minha namorada (ex trompetista) até comprou o CD deles, de tanto que gostou. Negociamos um taxi coco por 3 CUC até nossa hospedagem (centro novo) e fomos dormir.

No dia seguinte fomos até a Necrópoles Cristóbal Cólon. A Necrópoles é um cemitério muito interessante onde é possível ver grandes túmulos das antigas famílias mais abastadas da época da exploração e túmulos de heróis nacionais, mas, o que mais me chamou atenção foi o lugar onde ficavam as pessoas comuns. Eram simplesmente quadrados parecidos com túmulos sem tampa onde era possível ver crânios e demais ossos humanos todos juntos, alguns deles ainda com roupa. Minha namorada, depois de identificar um fêmur, não conseguiu mais ver. Do cemitério fomos de taxi coco até a via azul a fim de já garantir as passagens para Matanzas. Na rodoviária da Viazul, conhecemos melhor o esquema de fila em Cuba. Pouco antes da nossa vez, uma moça entrou na nossa frente na cara larga para comprar as passagens. Ao questionarmos ela disse que já estava há mais tempo, mas estava sentada. Realmente eles sempre perguntam quem é o último da fila antes de entrar em alguma, mas não tínhamos visto ela lá antes de nós. Enfim, foi bom para aprendermos a também sempre perguntar quem era o último da fila e exigir atendimento depois de quem responder. Com as passagens para Matanzas compradas, fomos até o ponto de ônibus para ir visitar mais museus no centro antigo. Após mais de meia hora no ponto de ônibus, decidimos pegar um taxi coletivo que parou em frente ao ponto. Estávamos conversando com alguns estrangeiros alemães, mas, não quiseram dividir o taxi conosco, pois disseram que queriam conhecer e ter a experiência de andar em um ônibus coletivo em Cuba. Como nós já tínhamos esta experiência (conhecemos no primeiro dia e é bem parecido com os ônibus das periferias do Brasil) escolhemos o taxi coletivo por 5 CUC e dividimos com um turista mexicano que tinha de 50 a 60 anos. O motorista era um funcionário público que ganhava um dinheiro extra com o serviço de taxi clandestino. Após uma boa conversa pelo caminho chegamos na Habana vieja. Como já tínhamos perdido muito tempo com a fila para comprar passagens e a espera no ponto de ônibus, decidimos nem tentar entrar em museu nenhum, pois, já estava pouco tarde e os museus fecham pontualmente. Compramos churros feitos ao estilo do Sr. Madruga em frente do museu do chocolate e uma bebida fria (estava muito calor) de chocolate com mel (maravilhosa, achei melhor que a que vendem dentro do museu). Os churros estavam bons, mas, prefiro os brasileiros. A bebida de chocolate realmente estava ótima. Era feita com chocolate fabricado à moda antiga. De lá, fomos até a praça de São Francisco de Assis, ao lado da praça da Madre Tereza de Calcultá.

Museu homenageando São Francisco de Assis
Construção em homenagem a São Francisco de Assis

Este lugar é maravilhoso, principalmente à noite. Lá também encontramos uma mulher comum com um violão cantando a música do comandante Guevara, mas, diferentemente de outros artistas típicos que encontramos normalmente, ela não tinha cesta para colocar moedas. Ou seja, estava só caminhando e cantando porque gostava e queria mesmo. De lá, decidimos voltar caminhando até onde estávamos hospedados (centro novo). Era uma boa caminhada, mas, andando a pé dá pra conhecer melhor a maioria dos centros.

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 O que é recomendado levar para sua viagem à Cuba

– Como fazer para tirar o visto cubano (relato de viagem)

– Como é a Internet, telefones fixos e celulares. Meios de comunicação em cuba

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